efeito donaren #3

Sempre sonho com o mesmo lugar. É uma espécie de floresta, mas tem algumas estruturas de cimento, como um túnel com um alçapão secreto e um bar em que o chão é feito de areia. Também tem vários cursos d'água. Nesse sonho, entretanto, foi diferente. Eu estava levando minhas amigas do ensino fundamental para conhecer esse lugar. Chegando lá, descobrimos que estavam construindo várias ferrovias que cruzavam todo o local. Os trilhos pareciam com os das montanhas russas: estavam flutuando, fazendo curvas, se cruzando em alturas diferentes. Eu sabia que alguns eram metrô, alguns eram de companhias de mineração, etc. Pensei que estavam todos desativados, mas não estavam. Começamos a correr pelos trilhos com medo de sermos atropeladas. Algumas linhas com certeza estavam desativadas e nós aproveitávamos para segui-las.

Em determinado momento, conseguimos descer dos trilhos e andar no chão de terra. Do nada, senti alguém puxando meu braço. Quando olhei, tinham três crianças penduradas umas nas outras, saindo de um buraco. A mãe de uma delas não gostou de eu ter tirado o filho dela do buraco e começou a me atacar com um galho. Fugimos para uma estrutura que parecia uma estação de metrô, onde encontramos outras pessoas que também estavam tentando sair do lugar.

créditos da imagem

O próximo sonho foi um filme de terror. O cenário era uma casa de dois andares onde moravam um casal e seus cinco filhos. O pai era extremamente abusivo e restritivo com as crianças. Elas só podiam comer o que ele permitia, não podiam ter amigos ou sair de casa desacompanhados. O pai começou a espiar os filhos tomando banho, depois começou a exigir participar dos banhos. Uma das filhas obedecia ao pai de forma absoluta, o que fazia com que ela sofresse muito. Um dia, ela descobriu que os irmão davam algumas "escapadas" das regras do pai - tomavam Coca-Cola escondido, tinham namoros, saiam de casa no meio da noite para se encontrar com os amigos. Ela se sentiu boba por ser a única que seguia tudo à risca e decidiu fugir de casa.

Anos depois, essa menina se tornou mãe solteira. Ela morava em uma casa de apenas um andar, com duas portas que davam para fora da casa (uma na frente, outra atrás). Um dia ela encontra com um de seus irmãos e descobre que o pai a está perseguindo ela e pretende matá-la. Nesse momento, eu entro em cena. Estou na casa junto com elas enquanto o pai ronda a casa. Ele observa pelas janelas, forçava as portas. Ele não grita, não faz barulho, mas sabemos que ele está lá. Conseguimos ver sua silhueta e sabemos que ele está armado. Fechamos as cortinas para que ele não pudesse enxergar em que cômodo estávamos. 

Aí o sonho acabou.

neon pill x the human fear

Quem vai levar o Grammy de melhor álbum de rock em 2026? Façam suas apostas.

Desde 2015, todos os álbuns lançados pelo Cage The Elephant levaram o gramofone. Sei que prêmios são superestimados e que costuma ganhar quem faz mais barulho (Taylor Swift que o diga), mas Tell Me I'm Pretty (2015)Social Cues (2019) são dois álbuns bons para caralho! E os caras mantiveram o nível no Neon Pill (2024): um álbum bom, coeso, experimental no nível certo. Quando parei para ouvir, meu primeiro pensamento foi "é, os caras vão ganhar de novo".

Me mantive* firme nesse pensamento até ouvir o The Human Fear (2025) do Franz Ferdinand. Até onde eu sei, a banda nunca ganhou um Grammy - nem nunca foram indicados na categoria de melhor álbum de rock, mas dessa vez a briga vai ser boa. O álbum é uma obra de arte moderna: uma mistureba que faz muito sentido. Tem música baladinha, tem música super produzia, tem sintetizador, tem piano, tem de tudo. Parece que os caras sentaram e disseram "tá, agora a gente vai fazer tudo o que a gente quiser e foda-se a lógica". Mas tem uma lógica. Não me pergunte como, mas o álbum ficou fechadinho. Todas as peças se encaixam. Sabe aquelas imagens aesthetic do quarto de adolescente americano, onde tudo está jogado, tem bagunça em todo canto, mas a foto fica instagramável? O álbum tem essa vibe.

créditos da foto

Apesar do Cage The Elephant ser uma banda queridinha do povo que vota no Grammy (e minha queridinha também), acho que o Franz Ferdinand vai ganhar essa briga. Mas, sei lá. Pode ser que os caras nem sejam indicados. Afinal, é o Grammy: uma premiação que não faz o menor sentido e que talvez nem devesse ser tão levada a sério. Os caras indicaram Machine Gun Kelly e Ozzy Osbourne na mesma categoria, então talvez nem eles se levem a sério. 

Mas o que importa é que, nessa disputa, eu torço pela briga. Os dois álbuns são muito bons e quem ganha com isso sou eu, que vou ter essa trilha sonora maravilhosa para ouvir no ônibus, enquanto fecho os olhos e tento esquecer que sou uma pobre fodida. A felicidade está nas pequenas coisas. 

Neon Pill (2024) x The Human Fear (2025)

* sei que o certo aqui é "mantive-me", mas é tão esquisito usar próclise em um blog pessoal... parece que estou sendo irônica. Ou talvez seja maluquice minha.

neon tiger

A Virgínia anunciou que está se divorciando do Zé Felipe e só se fala sobre isso no metrô da Barra Funda. Muitas preocupações sobre a guarda do tigrinho dos dois. Será que vai ser compartilhada? Será que a pensão vai ser paga com uma porcentagem das perdas dos apostadores? São questões...

plataforma nova galera, tá pagando bem - créditos da foto

Deve ser bom se divorciar sendo rico porque você só precisa ligar para um assessor e dizer "arruma uma mansão que eu tô saindo daqui". Enquanto ele se vira para encontrar um corretor, você passa no shopping e compra um novo guarda roupa. Contrata alguém para carregar suas sacolas, toma um milkshake proteico, passa na loja da Apple para comprar um notebook novo e aproveita para comprar um relógio com uma pulseira diferente da que você tinha. Quando terminar, já estará morando em outra casa. Seu assessor vai cuidar para que sua correspondência chegue no endereço novo.

Quando o casal tiger postou sobre a separação no instagram, os caras do balela estavam dando entrevista no Podpah. O Igão disse "breaking news" e o Zero respondeu "gol do São Paulo?". Eu me identifiquei muito com a reação dele. No que a separação desse casal afeta o São Paulo? Vamos ganhar a libertadores esse ano? Calleri vai me pedir em casamento e me tirar da vida de assalariada fodida que eu vivo? Se a resposta for não, não me interessa.

Mesmo assim, é impossível viver cronicamente online sem absorver essas bobeiras. De tempos em tempos o cérebro insiste em emitir opiniões automáticas, pensamentos intrusivos de julgamento, como se aquela informação fosse realmente relevante, digna de atenção. Precisamos gastar energia para frear o fluxo de pensamento. Calma lá, sr. Cérebro, não gaste meus poucos neurônios nessa merda. Tô tentando passar num concurso público, pelo amor de deus, usa essa energia para decorar um artigo da legislação tributária! A irrelevância teima em habitar nossos pensamentos.

Tanto teima que estou maratonando os episódios de A Bolha de Vitor Hugo 2, um reality show online onde os participantes precisam gastar seu próprio dinheiro para participar. Muitos deles ficaram maravilhados com o participante que é pedreiro e faz coisas. Como assim você não fica em casa o dia inteiro assistindo tiktok? Um deleite. Tendemos a pensar que todos vivem uma vida igual ou melhor que a nossa, vemos pessoas riquíssimas (como o casal tiger) e nos sentimos insignificantes, mas raramente temos a oportunidade de assistir pessoas ainda mais insignificantes que a gente.

Qual o sentido da vida? No fim das contas, a vida não precisa fazer sentido algum. Ser medíocre está na moda. Podemos gastar nossas horas chorando no transporte público. Ufa, que alívio.